sábado, abril 10, 2004

o fim

Hoje parece-me que foi finalmente o fim... não por esta conversa ter sido muito diferente das outras...

Foi diferente, talvez tenha sido, por isso considero realmente o fim. Ele foi exposto tão claramente. Era mesmo uma morte anunciada e mesmo assim...
Estou vazia... isso deve ser um sentimento comum a todos os que poem um fim a alguma coisa. Não serei diferente. Queria que este fosse um fim um bocadinho mais especial que todos os outros. Porque para mim também é o fim de uma coisa um bocadinho mais especial que todas as outras... que todas as minhas outras histórias e do que todas as outras histórias de todas as outras pessoas.
Claro que não é. Claro que este é apenas um daqueles dissabores, uma daquelas coisas que irei recordar como mais uma num dia longinquo que ainda há-de vir. Sei. Tenho absoluta certeza que não foi o último, nem o melhor, nem o mais marcante. Além de sabe-lo tenho que deseja-lo... de outra forma seria o caos.
Só que este fim implica uma série de finais. Final de um sonho em que me via como a parte absolutamente indispensável de além ( que imodéstia), o final de uma casa que fui construindo como um pretexto para uma vida qualquer que ando a inventar a cada momento.

Estou com medo do que há-de vir. Conheço-me demasiado bem. Esta circunstância propicia escapes. Escapes cada vez mais frequentes. Escapes para além daqueles a que já me fui habituando. Sei que odeio essa caracteristica em mim. Além do mais detesto essa caracteristica em toda a gente. Critico-a e possuo-a. Odeio-me. É unica conclusão lógica.

E agora? Conseguirei levantar-me da cama? Saberei o que fazer com os meus finais de tarde? para não falar dos dias inteiros num trabalho que odeio e que uma das poucas coisas que me alentava era esse dinheiro ser para nós, era o esperar-te muito de vez em quando no escritorio, era ligar-te durante o dia para saber se já tinhas acordado? É que nem posso considerar-me como aqueles homens divorciados que não sabem o que fazer com a sua casa vazia e lidar com a ausência do outro. Não tenho casa. Não tenho sítio para onde voltar e sentir-me sozinha. Fiquei até sem poiso para uma qualquer foda fortuita que pudesse surgir. Não estou desalojada como é óbvio. Apenas voltarei para um modo de vida que para mim é absolutamente temporário.

Mas agora não tenho perspectivas.

Apesar de tudo prefiro não te ter trocado por ninguem. Por um Outro. Talvez o diga para parecer corajosa ou porque de facto não existe ninguém. Ou porque é politicamente correcto dize-lo. Para mim é uma paulada. Boa. Provavelmente.

E esta cidade continua aqui a acenar-me com solidões desesperadas, que nem um inesperado encontro atenua. Pelo contrário, acentua.

Conclui agora, e com uma certa graça e apreço pela minha propria inteligencia, que esta minha situação, ou melhor, todo o meu modo de vida é Expressionista. Exagerado, arrancado a ferros, com o drama à flor da pele. Todas as cores são demasiado berrantes ou demasiado escuras.

Quanto a nós, acho que o mau foi conhecermo-nos demais, conhecer o podre e o doentio de cada um destruiu-nos. Mas foi uma das mais belas conquistas de intimidade. Enquanto fomos apenas explorando todas as nossas pequenas graças. Agora para o fim já estavamos muito cansados e as piadas estavam gastas. Vou sentir tanta falta da tua parceria para algumas loucuras.

Quem sabe um dia a coisa tem volta. Mais madura eu e com mais capacidade de encaixe tu.

Agora tratarei de encontrar outras coisas. Outros interesses e coisas. Pessoas, muitas. Quero embriagar-me nelas. Mas sei, sei-o demasiado bem que para estar novamente "in the mood for love" vai levar muito tempo. Muito mais tempo do que imaginas e sequer acreditas. Sei que me imaginas sedenta (carente) de outro amor. Terá de aparecer alguem radicalmente diferente e isso vai levar muito tempo. Entretanto... entretanto vai acontecer aquilo que sempre aconteceu. Os mesmo homens, acho as vezes que é mesmo sempre o mesmo homem... que vão olhar para mim, ver a uma lolita já entradota e escorregar brevente nos meus braços que acentem (?) muito mais do que deveriam (?).

Não se entende e tanto faz que se entenda.

Cometo o erro de ouvir Sade Adu e de lembrar-me de da casa onde fomos mais felizes apesar de ter sido uma das fases mais complicadas da minha vida. Lembro-me muito bem de lavar aquele chão com estas musicas. Das janelas altas e do nosso sofá, cadeira de praia, branco. Amei-te muito. Amo-te muito por esses momentos. E pensar que nessa altura também havia crises. E pensar que talvez tivesse sido melhor que fosse sempre eu a suportar essas crises. O teu egoismo maior foi a nossa relação degradar-se quando a crise te afectou. Antes tu podias sempre proporcionar momentos maravilhosos mesmo que nao trouxesses dinheiro para casa. Antes eu proporcionava momentos maravilhosos quando calava as minhas duvidas e os momentos de escape à nossa relação não te tocavam. Se calhar fui perdendo essa habilidade ou fui-me cansando. Talvez nao tenha sido persistente o suficiente para esperar os dias melhores onde tudo seria janelas altas e sofás brancos.

Onde eu seria a tua "butterfly".