quinta-feira, abril 13, 2006

(des)ilusões

Quando eramos pequenos convenciamo-nos facilmente de coisas que não eram verdade... sei lá... pequenas coisas que julgavamos ter acontecido. Mais tarde elas vieram a esclarecer-se como falsas, mas nessa altura do campeonato já nos tinhamos de tal forma apropriado delas que não fazia sentido desligarmo-nos. Quer dizer... há coisas claro, que fomos deixando para trás... outras não.

Dizermos ou pensarmos nessas coisas tornava-nos especiais mesmo que nada nelas correspondesse à realidade.

Eu não tenho os pés pequenos, nunca tive. Nem sequer os tenho particularmente bonitos. São normalíssimos e com isto quero dizer que também não tenho (graças a todos os anjinhos) os pés chatos.

Tive uns ténis, sei lá com que idade, lindos, da le coq sportif (acho eu, também aqui posso estar a mentir) azul bébé (isto eu tenho a certeza). Acho, e mais uma vez apenas acho, que comprei dois pares iguais depois de ter deixado de ser capaz de calçar os primeiros. Parece-me que fiz uma birra quando não consegui comprar os terceiros, mas o realmente estúpido (ou simplesmente infantil) desta história é que me convenci durante anos de que tinha ficado com os pés "pequenos" porque usei esse par de tenis tantos anos pude.

Apesar da "deficiência" motivada pela casmurrice sempre achei uma história brilhante esta de ficar "diminuida" por causa de um amor a uns tenis lindos.

Esta é a croniqueta da menina que não largava os tenis, mas há outras.

Certa vez sonhei (deve ter sido isso) que tinha apanhado uma vacina que me deixou um enorme inchaço acompanhado de uma vermelhidão inacreditável no braço e que isso causara uma pequena cicatriz. As dores eram imensas assim como o impacto de semelhante inchaço purulento. Claro que um dia, bastou uma palavra da minha mãe e toda essa ilusão se desfez, mais tarde percebi que gente que é gente em Portugal tem essa mesma marca. Bom sinal, todos apanhamos a mesma vacina. Espero que me esteja a proteger de uma doença horrorosa.

Mas de cada vez que isso acontece perdemos um bocadinho de nós, das nossas aventuras da infância e percebemos que somos banalíssimos, que as boas histórias (sejam elas divertidas ou dramáticas) passaram-se principalmente com os outros e que nós não somos senão contadores de contos alheios, ladrões de particularidades.