domingo, fevereiro 26, 2006

suburbanidades

Estamos cada vez mais finos... vamos jantar a restaurantes melhores, pegamos na família e vamos ao teatro depois da refeição, pedimos secretos, pedimos gambas moçambicanas, pagamos com visa gold, subimos na vida. Mas, fazemos tudo aquilo com o requinte de quem ganhou dinheiro e nunca esqueceu os inúmero almoços de fins de semana na Cascata em Moscavide, dos lanches na bomba da Galp (rica tarte de amendoas, que saudades!).
Nessa altura o nosso pai usava uma pochete e ninguém pensava no Nelo e na Idália... eram as coisas da época, a nossa mãe usava saias travadas de cabedal e uma permanente e nós kilts e camisas com cerejas na gola tipo babete. Iamos a Vialonga ou ao Forte da Casa, ou sei lá onde era aquilo, apanhavamos caracois, os putos comiam as cascas dos tremoços e os adultos bebiam imperiais. Na altura eramos exactamente o que somos agora.
Agora no restaurante fino, onde sabemos exactamente como nos comportar e o que pedir, fazemos discretamente aquilo que faziamos antes. Comemos o paozinho (todo!) que delicadamente o empregado colocou com uma pinça no pratinho (do lado esquerdo!) e atiramo-nos ao queijo derretido! Eu pelo menos faço-o. Há entre nós, quem o faça automáticamente, da mesma forma que come o paio alentejano e a fantástica saladinha de bacalhau, eu cá, continuo a preferir o queijo Queru, a pasta (ou paté) de sardinha... essas coisas que sempre existiram em todos os tascos e restaurantes suburbanos. Como-as com aquela ideia "já está pago, que se lixe! como tudo!" e peço coca-cola porque sempre me pareceu estúpido pagar por uma garrafa daquilo que em casa bebo da torneira e com a sensação de que é "à borla" e também porque era o brinde de comer fora.
Rica suburbanidade!... permite-nos ter sempre os pés no chão e a sensação de humanidade que nos liga a todos menos aqueles que afectadamente nunca conheceram as coisas de outra forma.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

os caracóis era em Rio Maior.
G.

8:53 da tarde  

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