sexta-feira, setembro 15, 2006

Crónicas passadas III

S. Gião.

Vamos as duas, tu ficas ali atrás daquele poste e eu vou lá. Pago o banho e deixo-te a porta aberta, depois é só entrar. Dois banhos pelo preço de um. Ai que vergonha amiga. Pronto. Está combinado.

Fico ali à espera, toalha ao ombro, bolsa de higiene debaixo do braço. Ali vêm eles. Palhaça. Sempre a fazer caretas e negaças. Ela entra, eu entro a seguir.

Ficamos nuas e conversamos tal qual como quando duas mulheres ficam nuas e se lavam. Rimos. Conta-me que o homem perguntou por mim: "a sua amiga não vem?" fez-se desentendida mas as caretas eram para que não viesse. Eu, claro, não entendi a tempo.

Ela acaba o duche, desliga a água. Entro na cabine e ligo a água. Um jacto morno que lentamente começa a levar consigo o pó do parque de campismo, da limpeza que fizemos à discoteca, a tinta seca da pintura do bar. Shampo, gel de banho, espuma cheirosa. Água fria. Subitamente alguém desliga o aquecimento. Raios. Gargalhada. Afinal o homem não é assim tão inocente e o truque é velho. Vais ter que lá ir amiga. Ai que vergonha. Pronto, vou lá e pago outro banho, sem comentários.

Toda a semana seguinte se passou assim. Pagavamos sempre dois banhos, depois disso entravam quinze pessoas que nos batiam à porta perguntando se já podiam entrar. O homem nunca mais desligou o gás. Foram das melhores férias que já tive. Amiga, trabalho, camaradas.