terça-feira, julho 11, 2006

Diariamente

Pega neles de manhã e vão tomar todos o pequeno-almoço à confeitaria. Digo-lhes que é uma tolice gastar dinheiro na rua mas riem-se da mãe e vão todos entretidos a fazer imenso barulho na caixa de escadas. Enquanto meto mais qualquer coisa numa mochila (já vou atrasada) vejo-os sair rindo. Está tempo de chuva e vão com umas galochas inacreditavelmente berrantes, os três. Vão para perto. Depois os pequenos passarão o dia todo na escola. O grande ficará, como sempre, trabalhando nos milhares de projectos em que se envolve. Eu vou também.

Quando regressarmos, a casa voltará ao barulho e à azáfama, agora é silêncio e calma.

Ele virá contando as aventuras do dia e vai falar-me de muita gente que não conheço só para que eu diga "e esse é quem?" e "essa era qual?" enquanto me entretenho com tralhas que são só minhas. Lá dentro há coibóiada, jogos e música. Eles também têm tralhas que são só deles em que nós não tomamos parte e ainda bem. Depois também eles vêm contar-nos coisas.

As histórias intermináveis da professora, do recreio, dos amigos, das actividades extra, todas as coisas que lhes são importantes relatadas ao ritmo alucinante de um relato de futebol. Rimo-nos juntos. Ele, sentado mais ao longe, diz-me com os lábios aquilo que tem planeado só para nós os dois. Desconcentro-me uns segundos. "ouviste?". Sim. Descobriram um tesouro hoje e isso é mesmo especial. Depressa se esquecem do tesouro, o pai chama-os para que cavalguem nas suas pernas. Gritam.

Hoje ficam com um primo durante a noite. A perspectiva entusiasma-os. Poderão dançar com ele. O primo dança, rebenta colunas de som, dá cabo do juízo dos vizinhos, fuma cigarros de enrolar, beija-os na boca, deixa-os estourados a dormir no sofá e fica a ver filmes até tarde. Aprenderão coisas que não sabemos ensinar-lhes.

Voltaremos ligeiramente ébrios, demasiado perto do início da manhã, quando o azul se torna violeta. Dormirão os três na sala em pantanas. Deixemo-los lá. Ninguém dará por nós apesar das mantas que se ajeitam em cima dos corpos.

Deitemo-nos. Acaricia-me as coxas. Adormece-me com os teus dedos no meu sexo. Já nos amámos muito esta noite.
Amanhã quero dormir até tarde e se os putos despertarem cedo vai andar com eles de bicicleta na rua. Chapinem nas poças. Tu nunca dormiste muito.

Quando chegarem prometo sumo de laranja para todos.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

És a autora deste texto?
Gi

8:06 da tarde  

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