sexta-feira, agosto 04, 2006

savoy, 3 de agosto de 2006

automaticamente.
como quem costura.
como quem borda.
como quem debita produtos numa maquina registadora.
como quem fode esquecido do que é o amor.
bateria e baixo em compasso certo e firme.
em volteios inúteis o piano.

tão gastos como o veludo do sofá: os olhares vazios, os bigodes que já não se usam, os aplausos automáticos da parca assistência.

uma voz escorre grave, suave, fio de som no microfone com efeito echo. standarts de sempre, repetidos até à exaustão, cantados em todas as noites desde que a noite se faz naquele bar de hotel.

uma tez de Goa. uma pele de quem não é de cá. olhos escuros de quem viu a Índia para depois ver Moçambique para aqui chegar condenando o som ao modo repeat.

e só se ouve música quando no trio se fecham os olhos, e as imagens crescem dentro das cabeças dos músicos como pautas, como flores, como serpentes, quando lá fora não há piscina, não existem turistas, não há hotel e não existo eu despedindo-me com um baixar de olhos dos músicos ao fim da noite. quando eles não se despedem de mim com um súbito olhar de homens.

2 Comments:

Blogger intruso said...

gostei muito deste e de outros posts...
parabens pelo blog
;)

9:44 da manhã  
Blogger j. said...

thanks ;)

12:46 da tarde  

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