sábado, julho 22, 2006

A poesia é boa. A poesia é linda. A poesia não serve para nada. Ainda bem, por isso é linda, por isso é boa.

Não concordo que existam palavras a mais. Existe é poesia a mais. Porque os sentimentos são complexos mas deturpáveis e a puta da poesia passa a vida a torce-los.

As palavras são boas. As palavras são lindas. A conversa é útil. Ainda bem, é por isso que nos explicamos, nos fazemos entender, mostramos os nossos pontos de vista, fazemos política.

A vida é feita de conversas e não de poesia. A poesia da vida não se diz. Acontece. Ainda bem.

Se digo: o verão é o meu território, faço poesia. Se digo: amo o verão, no verão sinto-me mais parecida comigo, no verão a solidão é mais pequena mesmo que estejamos sós, o verão torna o meu corpo mais flexível, mais bonito, mais dócil, estou a dizer a verdade. Estou a falar. Estou, eventualmente, a conversar.

Que boa a conversa, que bom contar uma história, dar-lhe detalhes, emprestar-lhe cores, fazer rir com a nossa conversa, tomar decisões, discutir soluções. Que boa é a conversa. Que bom é a troca. Que bom não pensar muito antes de falar.

Nem sempre conseguimos. Somos falíveis como o raio que o parta, somos muito complicados, somos poéticos, somos parvos.

Dizemos poesia em vez de dizer:
"coça-me as costas"
"vai trabalhar malandro!"
"faz-me um pão com manteiga"
"vamos sair?"
"queres um beijo?"
"faz-me um filho..."
"já ouviste esta?"
"estou cansada"
"quanto é que ganhas?"
"não sei o que fazer"
"ajuda-me"

Quero falar. Quero dizer. Quero expor. Quero entender e fazer-me entender. Quero soluções de compromisso, negociadas, discutidas, argumentadas. Quero deixar de falar sozinha e em código, quero combinar coisas contigo, quero que as palavras sejam prática e realidade.
Quero dar à língua e quero beijos franceses e estou fartinha de poesia.