segunda-feira, maio 01, 2006

Papoila

Esta flor, que no outro dia insistias em não saber qual é, é a minha flor favorita.
É vermelha cereja, distingue-se em qualquer baldio, desfaz-se quando a apanhamos à bruta, esmaga-se e tinge-nos os vestido e aparece sempre, sempre, absolutamente sempre quando chega a primavera.
Faz-me lembrar quando ainda existia um armazém da Lever nas traseiras da minha casa. Este prolongava-se num enorme baldio donde podiamos ir a pé para a barraca da sra. Maria e daí até à nº3 sem atravessar uma rua sequer. Ai existia também um aqueduto, acho que já nessa altura ele não servia para nada a não ser pontoar o baldio com os seus arcos de volta perfeita, onde à sua sombra podiamos cortar os fetos com que lá em casa de faziam os arranjos de flores. Também nasciam e cresciam braviamente outras flores, principalmente malmequeres e outras que não sei o nome... na verdade não sei o nome de mais nenhuma... aquelas roxas pequenitas que despontam de uma erva alta e seca, aquelas brancas esféricas sem núcleo que se lhe aponte (e que, e esta é uma curiosidade muito interessante, se reproduzem como os morangos, eu já experimentei dentro de um copo de água) e as azedas. Afinal ainda sei mais um nome. As azedas, aquelas flores pequenas em forma de pequenos sinos que nascem no final das finas hastes sumarentas e azedas (óbvio!) que chupavamos muito embora soubessemos que qualquer cão lhes podia ter mijado em cima.
De tudo o que existia de fascinante nesse baldio que rodeava o nosso prédio, aquelas ervas secas com umas coisitas (não sei como designa-las) em forma de seta que se apanham com a mão toda ao longo do caule e depois se atiram contra as costas dos colegas para lhes contarmos os namorados pelas que ficam presas ao alvo, nada era mais bonito e frágil do que as papoilas.
Quando tive na quarta classe (décimo aniversário) a minha cadeira de rainha da primavera, menina dos anos, princesa do papá, elas estavam lá e bem sei que aquilo deu muito trabalhinho. Porque aquela coisa de interlaçar tudo o que é flor rafeira numa cadeira de verga madeirense até ela se transformar num trono, tem muito que se lhe diga.

2 Comments:

Blogger High Power Rocketry said...

: )

3:51 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Retrato perfeito.
Gi.

8:35 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home