terça-feira, fevereiro 28, 2006

Crónicas passadas I

Um dia ele chegou de carrinha (daquelas que só me fazem pensar em alentejo) com os cães na bagageira e suscitou logo curiosidade.
Antes de ter assimiliado a breves informações que me deram (que seriam, no entanto, mais que suficientes para o identificar) ele chegou-se perto de nós e disse naquela voz perfeitamente inconfundível... desculpem o atraso... o que é que eu posso fazer?
Não nos conheciamos, e certamente não nos passamos a conhecer, mas aquela voz provocava em mim sempre uma vertigem rápida. Felizmente, as diferenças entre aquela pequena figura e a outra rapidamente se estabeleceram... educadíssimo, conversador e exímio na pista de dança, semelhante apenas nas vagas curvas dos caracois, e na voz estupidamente doce.
Tanto um como outro são apenas fogo fátuo na minha vida e saber da sua existência é satisfação suficiente. Consigo, com desprezo bastante, perceber os abismos que nos separam, com pena mas sem dor.
Crónicas passadas...


A música, de um autor/cantor de quem nem sequer gosto muito, é se calhar representativa de um certo espírito que se deve manter relativamente a esta e outras crónicas passadas. É também uma forma de prolongar no tempo uma outra homenagem.

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domingo, fevereiro 26, 2006

suburbanidades

Estamos cada vez mais finos... vamos jantar a restaurantes melhores, pegamos na família e vamos ao teatro depois da refeição, pedimos secretos, pedimos gambas moçambicanas, pagamos com visa gold, subimos na vida. Mas, fazemos tudo aquilo com o requinte de quem ganhou dinheiro e nunca esqueceu os inúmero almoços de fins de semana na Cascata em Moscavide, dos lanches na bomba da Galp (rica tarte de amendoas, que saudades!).
Nessa altura o nosso pai usava uma pochete e ninguém pensava no Nelo e na Idália... eram as coisas da época, a nossa mãe usava saias travadas de cabedal e uma permanente e nós kilts e camisas com cerejas na gola tipo babete. Iamos a Vialonga ou ao Forte da Casa, ou sei lá onde era aquilo, apanhavamos caracois, os putos comiam as cascas dos tremoços e os adultos bebiam imperiais. Na altura eramos exactamente o que somos agora.
Agora no restaurante fino, onde sabemos exactamente como nos comportar e o que pedir, fazemos discretamente aquilo que faziamos antes. Comemos o paozinho (todo!) que delicadamente o empregado colocou com uma pinça no pratinho (do lado esquerdo!) e atiramo-nos ao queijo derretido! Eu pelo menos faço-o. Há entre nós, quem o faça automáticamente, da mesma forma que come o paio alentejano e a fantástica saladinha de bacalhau, eu cá, continuo a preferir o queijo Queru, a pasta (ou paté) de sardinha... essas coisas que sempre existiram em todos os tascos e restaurantes suburbanos. Como-as com aquela ideia "já está pago, que se lixe! como tudo!" e peço coca-cola porque sempre me pareceu estúpido pagar por uma garrafa daquilo que em casa bebo da torneira e com a sensação de que é "à borla" e também porque era o brinde de comer fora.
Rica suburbanidade!... permite-nos ter sempre os pés no chão e a sensação de humanidade que nos liga a todos menos aqueles que afectadamente nunca conheceram as coisas de outra forma.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Um dó li tá...

Cara de amendoá...

Hoje vou ver este...

definições à parte...

E é assim que aquele cabrão (que nunca mais me linkava) me define...

UMA BOGA ARMADA EM PRESIDENTE DA REPÚBLICA (OU SERÁ UMA PRAÇA?) QUE TEIMA EM SER LISBOETA DESENCANTADA COM O PORTO. BICHINHOS NA CABEÇA NÃO LHE FALTAM, MAS OS OLHOS GRANDES E EXPRESSIVOS NÃO OS MOSTRAM. CAPAZ DAS MAIORES CAGADAS E DAS MELHORES REFLEXÕES, É RAPARIGA DETERMINADA, ACTIVISTA (NO MELHOR E NO PIOR SENTIDO DA PALAVRA) E COM UM CORAÇÃO ENORME QUE NÃO LHE CABE NO PEITO (É MELHOR NÃO CONTINUAR A FRASE). BOCA DOCE E PALAVROSA QUE SORRI QUANDO LHE DOU UM CHUPA-CHUPA DE LARANJA OU UM GELADO DE GELO, DAQUELES MAIS BARATOS. E AINDA POR CIMA É ESPERTA! UMA MAGARELES!

Gostei... de lagriminha quase no canto do olho vou preparando a tua definição!

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

walk the line

Este filme deve ser muito mais bonito do que a realidade, a avaliar pelas fotos abaixo... anyway... se alguém, alguma vez, me pedir em casamento quero que seja exactamente assim.
A June Carter não se pôde queixar de falta de persistência da parte deste senhor.


domingo, fevereiro 19, 2006

Viagens na minha terra...



Pronto... não consegui colar aqui o código que me davam neste site e por isso acho que a imagem não é muito boa... vamos lá a ver como é que isto fica no blog.

Obrigado moço(s) pela dica... o site é muito fixe e se bem que ficamos sempre a olhar para a meia dúzia de checks que pusemos nos quadradinhos (e isso é mto triste) é sempre uma boa maneira de controlar as nossas viagens e fazer planos para pintar de vermelho o resto do mapa (next trip Berlin!!).

Quanto a este, especificamente, tenho pena que não se vejam melhor as pintinhas vermelhas perdidas no oceano atlântico para compensar a falsa ilusão que a enorme mancha asiática causa no ecrã (não havia a hipotese Macau!!)

http://www.world66.com/myworld66/visitedCountries/worldmap?visited=MXCUCVBECZDKFRDEITLUPTESUKCN">
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quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Ao meu leitor...

O meu único leitor suscita-me muitas reflexões.

Primeiro porque gosto dele, é meu amigo e mora longe. Mas às vezes ele faz-me sentir assim uma espécie de irmazinha mais nova a quem se incentiva por esse mesmo tipo de motivos, gostamos dela, é nossa amiga e mora longe. E talvez, mas isto é provavelmente um devaneio, porque se anteviu nela (a long long time ago) mais talentos do que ela tem realmente.
Desculpa lá, mas hoje pensei isso, senti isso e tive vontade de te dizer... manda-me depois pró caralhinho se te apetecer.

E desculpas também aquelas duas leitoras da treta que nunca vêm cá saber novidades e aquele outro cabrão que supostamente me lê, nunca me comenta (mesmo na cama) e ainda não tratou de me linkar.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

brokeback mountain

No outro dia, li não sei quem, escrever algures (um blog suponho) que quando foi ver o, em português, Segredo de Brokeback Mountain o público se tinha portado muito mal. Com risadinhas e comentários fora de ordem.
Na altura achei praticamente impossível que isso se passasse e achei que certamente quem assim observava provavelmente teria empolado alguma gargalhada nervosa no meio da assistência.
O que é certo é que fui ver o filme ontem à noite e só não estendi uma bofetada para a fila de trás porque me arriscava a fazer figura de parva e não acertar em ninguém.
Começou logo no título traduzido pelas criaturas como "o segredo dos gays" e pelos visto isto deu origem a muita exitação na fila de trás... e depois disso eram os comentários jocosos sobre a virilidade das duas personagens... and so on and so on... enfim...
O melhor que arranjei foi "desculpem meninas, isto é um cinema não é um café" e mesmo assim o meu coração ficou a bater forte. Não sei se por ter de chamar atenção de alguém em público se pela raiva surda de ainda haver gente tão estúpida neste país.
O que enerva é que era um grupinho de jovens em que os mais novos teriam, sei lá, 15 anos e onde esta postura é um mau prenúncio. Algum nervosismo e desconforto eu teria compreendido... é complicado termos que nos confrontar com a nossa (espécie humana) própria sexualidade, mas daí até ao que assisti/ouvi ontem....
Claro que este episódio faz-me sempre lembrar de um outro bem mais engraçado (porque não pode ser ouvido pela generalidade das pessoas e como tal não foi ofensivo) em que num grupo também de jovenzinhos (na altura) um deles empurrava os outros e sussurrava um "vamos embora, vamos embora" quando se viu passeado numa rua de bares gay friendly...
Infelizmente aqui não era disso que se tratava, embora também isso fosse condizente com aquilo que se passava no ecrã. Aquele recalcamento da coisa sexual. Mesmo do protagonistas do romance, o modo como se viam, o modo como julgavam que eram vistos...
E aquele sofrimento mudo de quem se sente obrigado a viver de outro modo para além daquele que lhe faz feliz que atravessou décadas, continentes e que ainda constatamos à porta do cinema quando encontramos aquele senhor distinto que conhecemos demasiado bem (talvez por nos ser familiar) e cumprimentamos o eterno amigo que o acompanha discretamente...

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Que tolice ficar ansiosa... mas é verdade. Hoje não vieste nem disseste nada e eu fiquei aqui feita parva sem conseguir fazer nada das minhas coisas à espera que dissesses algo, de saber de ti. Não é só preocupação. Já te disse a minha coisa contigo não é altruísta, é egoísta. E por aqui se vê. Queria sugar-me mais um pouquinho as energias e fazer através de ti as minhas coisas.
E agora estou aqui. Parada. Quietinha. A contar o tempo. Morta de tédio. Morta de impaciência. Apetecia-me meter-me no cinema e ficar lá esquecida do tempo a viver as coisas do rectângulo. O tempo a passar depressa cá fora. O cinzento das nuvens a transformar-se no cinzento escuro da noite e o dia a passar sem que se desse conta dele, devagar e depressa ao mesmo tempo, inconsciente.

ressacando lx

Vi em Lisboa um grupo prai de 40 crianças chinesas (julgo eu...) a correr das Portas de S.Antão até ao Martim Moniz... concluí agradavelmente que esta cidade não é apenas cosmopolita porque acolhe (bem ou mal) imigrantes oriundos de quase toda a parte... agora há famílias que vivem aqui... não temos apenas os homens e as mulheres que trabalham... as crianças e velhos estão também cá...

O sol estava fantástico e embora um pouco perdida e sem nada de especial para fazer, a cena deixou-me estupidamente feliz. Era sábado e não havia escola mas os putos de várias idades vinham de mochilas e pastas de baixo do braço. Acho que vinham de uma qualquer escola alternativam onde falam e escrevem em chinês... Claro que isto já é uma fantasia minha...

Para além disso há a ligação do Carmo ao Elevador e outras coisas que eu não conhecia já. Agora venho e faço um pouco de turismo. Espanto-me com as lojas novas, maldigo o dia em que me passou esta ideia estranha de viver elsewhere e fantasio acerca da cidade.

Claro que Lisboa é cada vez menos minha e mais de outras pessoas, das conhecidas e das desconhecidas. Claro que o Porto é cada vez mais meu. E provavelmente isso vai transformar-me numa pessoa sem espaço para além do construido pela imaginação.

Sem descambar... gostei de ver algumas casas da rua da Madalena de cara lavadinha mesmo sem saber se isso corresponde a um interior recuperado, gostei de ver as bichas monstras para comprar bilhetes para o cinema, gostei de ver a gente na rua à noite, gostei dos bares que andam a abrir por ai mesmo sem mesmo ter entrado em algum. Gostei, com uma pontinha de inveja, da vida organizada dos meus amigos que continua sem que eu esteja para acompanha-la.